Minha tia-mãe: Vicentina Pitangueira

Você nunca foi de muito riso, mas como sorrir pra vida, se pra você a vida nunca sorriu? Mesmo assim, havia lá dentro de você, uma forma de ser toda especial... era mestra de nos fazer rir, com seu humor negro e seco... Carinho! Não lembro jamais de ter recebido de você e nem tão pouco de eu ter-lhe oferecido, pois, como você, nunca aprendi a dar e receber ternura! Como oferecer algo que não nos foi passado? A vida nos tornou assim: carinhosas por dentro! Cuidando uns dos outros, naquilo que sempre nos foi e nos é dado cuidar...

Recordo-me quando criança, eu colocava os barquinhos de papel, que você mesma  me ensinou a fazer, na enxurrada que corria na porta de nossa casa, e, você vez por outra, me observava, nas minhas traquinagens,  levantando a vista, das costuras que fazia para a igreja:  paramentos, batinas, ornamentos e outras coisas que, voluntariamente, costurava para o tabernáculo, onde por anos a fio deu o máximo que pôde de sua vida! Dos prazeres mundanos, desconheceu todos! Seu lazer e prazer, era tocar o órgao da igreja, cantar no coro, juntamente, com seu pai: Antonio Vila Nova e sua irmã de alma e minha tia por escolha: Lúcia Sales, que na mesma proporção, dedicou-se aos trabalhos da igreja. Sua paixão era coordenar as "Filhas de Maria", (a Pia União), foi diretora da Cruzadinha,  presidente do Apostolado do Coração de Jesus, dedicando-se sempre a essa gente, como se fosse uma familia que necessita de cuidados dobrados. Enfim, você foi uma boa e grande "servidora da igreja."


A edificação da Diocese, em Estância, devemos todos  agradecer a você e a tantos outros que, saiu de porta em porta pedindo ajuda para que a mesma fosse fundada! E em decorrência disso, você foi homenageada, em 2010, com o troféu que diz:

"Jubileu de Ouro Diocesano de 1960 a 2010


A Vicentina Pitangueira Menezes em reconhecimento pelos seus  esforços na edificação da Diocese de Estancia."


Mas que você, já com a saúde comprometida, não mais teve o direito de desfrutar, porém, motivo de honra para todos nós.


Você: alma nobre e abdicada! Renunciou de todos seus direitos para dedicar-se à nossa família! Cuidando dos seus pais e dezenas de sobrinhos que, por certo, tiravam-lhe o sossego do sono, por  não saber onde buscar recursos para sustentar tantos "filhos" que lhe foram jogados nas costas! Sobrinhos de verdade e "sobrinhos" de mentira... mas você não nos deixou passar necessidades maiores. Você abriu mão de construir uma familia própria, por saber que nós necessitavamos de apoio. E, todos os dias, quando chegavamos da escola, a comida estava pronta à mesa, nos esperando para alimentar nossas vidas sofridas, com a falta de nossos verdadeiros pais, mas que você, os substituiu à sua maneira e da melhor forma possivel!


Lembro-me quando trovejava ou quando alguem conhecido falecia, eu dormia grudada ao seu corpo, para ter a certeza de que havia alguem alí comigo, me protegendo! Por certo isso lhe incomodava, mas que, pacientemente, você entendia os meus medos de criança e que eu, por certo, sentia  falta da minha mãe real! Mãe que eu não conheci.


Aparentemente, não era pessoa de muito agrado, mas era assim seu jeito de ser. Não tinha um só inimigo! Todos gostavam de você: Pituta! (como era conhecida). E, talvez, pelo seu caráter, personalidade íntegra,  simplicidade e dedição ao próximo, construiu um buquê de amigos. Buquê esse que, ontem, dia 11 de abril de 2015, serviu para  ornamentar seu funeral. Estava lá todos, se fazendo presente, naquele instante  de partida, naquele momento de saudade! E, tenho certeza, que ao ser recebida pelos anjos, você -  Vicentina Pitangueira - foi muito bem recepcionada pelos seus pais, avós, irmãos, sobrinhos, parentes e amigos já desencarnados. Quanto a nós que aqui ficamos, creia, estamos sentindo de você, uma saudade incomensurável.


Descanse em paz, minha tia-mãe, e, que Deus lhe recompense por tudo de bom que nos proporcionou cá na terra.

Anamaria Pitangueira

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