Judas Isgorogota

*Dois poemas desse poeta que muitos desconhecem:

Você

Você...Você é tudo o que eu queria...
Tudo o que anseio que a ilusão me dê...
O meu sonho de amor de todo dia
Que nos meus olhos úmidos se lê...
Minha felicidade fugidia,
O meu sonho é você.....
Você...Você é a própria poesia
De tudo quanto em volta a mim se vê.
Se Deus quisesse dar-me certo dia
Tudo aquilo que eu quero que me dê,
Eu, sem pensar ao menos, pediria
Que me desse você!
Sonhos... glória imortal... seria um louco
Pedir tanta ilusão... Não sei por que,
Mesmo a ventura, que possuo tão pouco,
E tudo o mais que a vida ainda me dê,
Fortuna...amor...tudo eu daria, tudo,
Por você!
É que você tem todos os venenos...
É que seus lábios têm um não sei quê...
Os olhos de você são dois morenos
Que andam fazendo à noite cangerê...
Por tudo isso, eu pediria, ao menos,
Um pedacinho de você!

 

RECOMPENSA

Certa vez deixei a minha casa…
Cinco e meia, talvez,
Talvez seis horas da manhã da vida…
Um sol vermelho, de um vermelho brasa,
Por sobre a estrada adormecida,
Em completa mudez,
Derramava-se todo
Numa tonalidade futurista…
Era manhã quando sai de casa…
E o sol, vermelho de zarcão, dizia:
– “Para onde vai esse menino doudo
Que nem espera que lhe venha o dia?”
Cheio de minha fé, saí disposto
Para a conquista
Da primeira curva
Do caminho; porém,
Logo à tardinha o sol esmaeceu
E eu vi que havia rugas em meu rosto
E a minha vista
Já ficava turva
Como a vista do sol que envelheceu…
E, passo a passo, envelheci também…
De volta,
Meus sonhos apagados,
Joelhos vertendo dor, pés descarnados,
Sem um gesto, entretanto, de revolta,
Ando a procura de uma cova rasa
Onde eu, mártir da fé, pobre e infeliz,
Possa, enfim, encontrar a recompensa
De uma conquista imensa
Que não fiz!
Era manhã quando saí de casa…

 

*Wikipédia:

Judas Isgorogota é o pseudônimo do poeta e jornalista brasileiro Agnelo Rodrigues de Melo.[1] Estreou nas letras em 1922, com Caretas de Maceió.[1] Transferindo-se para São Paulo, publica Divina Mentira e Recompensa, menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Outras obras: Desecanto, Fascinação, Pela Mão das Estrelas, Os que vêm de Longe, Abkar e João Camacho.[1]

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