Gente que eu admiro (e AMO): Grande Otelo!

O texto abaixo diz que “poucos sabem que Grande Otelo foi, além de ator, cantor, compositor foi também poeta”… eu pertenço ao grupo desses “poucos”, pois tive a honra de participar, aos sábados, em Copacabana, de um encontro de poesias com o GRANDE (como eu o chamava) e outros poetas. Como era gostoso dialogar com o Grande! A sua simplicidade era algo impar… como impar, também, era a sua grandeza!!! Saudades de um das poucas “estrelas de quinta grandeza” que o Brasil já possuiu…
A vida nos colocou em caminhos diversos e, ele nem veio a saber que, ao registrar, "Labirinto", foi a ele que o dediquei.


Meu eterno reconhecimento, SAUDADE e gratidão ao "Grande"…

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Poucos sabem que Grande Otelo, além de ator, cantor e compositor, foi também poeta. Bom dia, manhã – seu único livro de poesias publicado – foi lançado em 1993, com noite de autógrafos em Brasília, pouco antes de sua última viagem a Paris. O livro era um antigo projeto do artista, que conseguiu realizá-lo ainda em vida.
Grande Otelo escrevia sobre tudo e mantinha um extenso arquivo de manuscritos - anotações pessoais, correspondências, projetos, roteiros e poesias - que hoje fazem parte do acervo da memória do artista. Esses documentos, agora catalogados, estão disponíveis para consulta através da busca avançada deste site. Alguns deles também podem ser acessados através dos links abaixo, que apresentam anotações preciosas como a decisiva auto-definição deixada pelo artista, em Palavras de G. Otelo.

Correspondências
O poeta Grande Othelo está presente numa vida inteira de poesia, mas também neste pequeno livro em que reúne poemas e letras de sambas e canções. Vale a pena lê-lo para se ter mais uma dimensão desse imenso brasileiro, um dos maiores de todos os tempos: ator, músico, cantor, apresentador de televisão, grande do teatro e do cinema, gênio nascido do ventre do povo mestiço do Brasil. Tão gênio brasileiro quanto Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Pelé, para falar apenas de três contemporâneos. Existiram alguns outros, poucos mais. Gênio de verdade não é mercadoria de se dar com o pé, é coisa rara.
Gênio da nossa raça brasileira, Grande Othelo criou Macunaíma no cinema, Sancho Pança no teatro, na vida de todos os dias é Dom Quixote. Nasceu de um verso de Gregório de Matos, parceiro de Carmem Miranda, o outro lado de sua música, o igual do maior. Macunaíma, Saci Pererê, Negrinho do Pastoreio: “O negrinho do pastoreio/pastorejou e perdeu/perdeu e se encontrou”.
Tive o privilégio de assisti-lo vivendo personagens de romances meus. Deu-lhes corpo e alma, fez com que o povo os reconhecesse e amasse. Cúmplice e parceiro, assim fez com a criação de outros escritores. Por isso, lhe devem os fazedores de literatura, música, cinema e teatro do nosso país.
Agora ele entrega ao público os poemas que escreveu. Nele se misturam Uberlândia e Ary Barroso, o menino Bastiãozinho e a pistoleira do cabaré, Zazá, de batismo Isaura, o beijo louco e o sossego terno, o Brasil e o amor.
Versos simples e sentidos, por vezes complementos poéticos de músicas que fizeram época, compostos por alguém que viveu e vive em estado de poesia: a poesia é o clima, a realidade, o sonho de Grande Othelo, imenso criador, brasileiro fundamental. 


Carta para Daniel Filho:image
 
Desejo 
 
O meu mundo eu carrego
Fazendo tudo, pra carregar sozinho
Ninguém poderia, mesmo querendo
Me ajudar a carregar
Este meu complicado mundo
Pesa muito e eu paro às vezes
Nos dias, semanas e meses
Em que este mundo pesa demais
E quando eu paro, choro e canto
Sem ninguém pra espiar
O choro que eu tenho pra chorar
E é baixinho, o canto que tenho pra cantar
Que é pra ninguém escutar
O canto que eu quero cantar
Que é pra ninguém escutar
O canto que eu quero cantar
Vou carregando com ele
Solitário nesta vida inteira
Levando sem saber pra onde
Meu velho mundo sem porteira.

Grande Othelo, poeta

Fonte: http://www.ctac.gov.br/otelo/textos/detalhe.asp?cd=16

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